A Editora Contracorrente tem a satisfação de anunciar a publicação do livro Cosmopolítica do cuidado: percorrendo caminhos com mulheres líderes quilombolas, de Nathalia Dothling, a grande vencedora do 2º “Prêmio Marielle Franco de Ensaios Feministas” (realizado em 2021), promovido pela Contracorrente em parceria com o Instituto Marielle Franco.
O trabalho, avaliado por três referências no pensamento e na militância feminista – Marcia Tiburi, Sueli Carneiro e Anielle Franco –, refuta o feminismo hegemônico, o qual, para a autora, confere autoridade apenas às mulheres brancas, eruditas e de classe média.
Assim, aliando muita sensibilidade e precisão científica, Nathalia Dothling adentra duas comunidades quilombolas, Toca de Santa Cruz e Aldeia, ambas localizadas no litoral sul de Santa Catarina, num processo de descoberta e valorização das “formas de conhecimento e vivências de mulheres negras e não brancas”.
Para tanto, seu ensaio faz uso de um vasto repertório teórico – sempre apresentado de modo crítico e acessível – para assumir um feminismo negro e descolonial e uma postura etnográfica em que se entrelaçam a biografia da própria pesquisadora e a dos sujeitos em foco. No livro, portanto, “a produção de conhecimento é vista como resultado do encontro e da aprendizagem com colaboradoras e colaboradores e suas experiências vividas e narradas, na construção de uma reflexão autobiográfica e um conhecimento científico”.
É a partir desse método arrojado que emergem relatos de sonhos da autora –em seu caminho de “enegrecer e aquilombar-se” – e todas as histórias de figuras como Mariana Crioula, Francisca, Preta, Dandara, Vó Ciloca, entre outras, cuja trajetória é marcada, de modo geral, por condições opressivas e exploratórias de trabalho, pela ausência de educação formal, pela experiência da oralidade e pelo exercício do papel de liderança a partir do cuidado, termo-chave do ensaio.
Nas palavras da autora: “as mulheres da Toca e da Aldeia ensinaram-me que há uma diferença tênue, porém crucial entre servir e cuidar. No caso, quando são exploradas nos trabalhos para as famílias brancas, estão servindo; mas quando trabalham dentro de suas próprias casas, estão cuidando. Foi, então, que percebi que esse cuidado para dentro é o que leva as pessoas que exercem o cuidado às lideranças. Também aprendi que os cuidados podem ser de muitos tipos – cuidar da saúde dos demais, escutar e aconselhar, ensinar a ler e a escrever, envolver-se com a questão da luta quilombola etc. – e que, portanto, há mais de um tipo de liderança aí, podendo ser religiosa, política ou sociocultural. No entanto, não importa qual seja o tipo de liderança, o cuidado é sempre o pré-requisito fundamental para uma pessoa ser considerada líder, já que esse é um atributo muito valorizado nas comunidades”.
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A Editora Contracorrente tem a satisfação de anunciar a publicação do livro Cosmopolítica do cuidado: percorrendo caminhos com mulheres líderes quilombolas, de Nathalia Dothling, a grande vencedora do 2º “Prêmio Marielle Franco de Ensaios Feministas” (realizado em 2021), promovido pela Contracorrente em parceria com o Instituto Marielle Franco.
O trabalho, avaliado por três referências no pensamento e na militância feminista – Marcia Tiburi, Sueli Carneiro e Anielle Franco –, refuta o feminismo hegemônico, o qual, para a autora, confere autoridade apenas às mulheres brancas, eruditas e de classe média.
Assim, aliando muita sensibilidade e precisão científica, Nathalia Dothling adentra duas comunidades quilombolas, Toca de Santa Cruz e Aldeia, ambas localizadas no litoral sul de Santa Catarina, num processo de descoberta e valorização das “formas de conhecimento e vivências de mulheres negras e não brancas”.
Para tanto, seu ensaio faz uso de um vasto repertório teórico – sempre apresentado de modo crítico e acessível – para assumir um feminismo negro e descolonial e uma postura etnográfica em que se entrelaçam a biografia da própria pesquisadora e a dos sujeitos em foco. No livro, portanto, “a produção de conhecimento é vista como resultado do encontro e da aprendizagem com colaboradoras e colaboradores e suas experiências vividas e narradas, na construção de uma reflexão autobiográfica e um conhecimento científico”.
É a partir desse método arrojado que emergem relatos de sonhos da autora –em seu caminho de “enegrecer e aquilombar-se” – e todas as histórias de figuras como Mariana Crioula, Francisca, Preta, Dandara, Vó Ciloca, entre outras, cuja trajetória é marcada, de modo geral, por condições opressivas e exploratórias de trabalho, pela ausência de educação formal, pela experiência da oralidade e pelo exercício do papel de liderança a partir do cuidado, termo-chave do ensaio.
Nas palavras da autora: “as mulheres da Toca e da Aldeia ensinaram-me que há uma diferença tênue, porém crucial entre servir e cuidar. No caso, quando são exploradas nos trabalhos para as famílias brancas, estão servindo; mas quando trabalham dentro de suas próprias casas, estão cuidando. Foi, então, que percebi que esse cuidado para dentro é o que leva as pessoas que exercem o cuidado às lideranças. Também aprendi que os cuidados podem ser de muitos tipos – cuidar da saúde dos demais, escutar e aconselhar, ensinar a ler e a escrever, envolver-se com a questão da luta quilombola etc. – e que, portanto, há mais de um tipo de liderança aí, podendo ser religiosa, política ou sociocultural. No entanto, não importa qual seja o tipo de liderança, o cuidado é sempre o pré-requisito fundamental para uma pessoa ser considerada líder, já que esse é um atributo muito valorizado nas comunidades”.
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